O circo estava em silêncio na calada da noite, ainda eram lá dezenove horas e o espetáculo só começaria ás vinte e duas. No picadeiro ou nos camarins, em cordas, trapézios ou simplesmente se maquiando, cada artista se aprontava para mais uma noite de espetáculo, mais uma noite de pura magia e sedução. Saindo de sua carruagem – sim, uma velha e clássica carruagem onde até então era a moradia do místico ilusionista -, aquele ao qual chamavam de o “Rei de Espadas”. Seus trajes clássicos e de época juntos a máscara bauta sobre a face como uma figura do carnivale de Veneza, era tudo de sua fisionomia que ficava à vista, ou seja, como um boneco fantoche, apenas se podia ver os olhos negros e brilhantes como duas jóias obsidianas da humanidade do jovem homem. Alguns ali mesmo nos bastidores questionavam quanto à aparência do ator, diziam que ele não tinha realmente uma face e por tal usava a máscara. Outros diziam lendas e contos, como sobre ele ter se queimado em um de seus truques, ou até mesmo que ele próprio deformou seu rosto para esquecer seu passado; mas a verdade dessas histórias, ninguém nunca soube, mas todos contam como se fielmente soubessem algo verídico. Descendo a escada de três degraus e parando de costas ao próprio camarim, o Rei olhou toda a movimentação e no silêncio de seu olhar encarou a lua cheia, era noite e uma bela noite para fazer o que melhor sabia fazer. Com sua lira em mãos, instrumento do qual ninguém podia tocar um fio de corda, ele seguiu a passos leves em direção a tenda. Quieto como sempre, quase nunca pronunciava uma palavra ou interagia com outros artistas, apenas conversava com o senhor do Magnarcana, o pierrot Vlad, talvez o mais misterioso de todos ali naquele circo; algo que talvez se deva ao fato dele guiar a companhia já por mais de quinhentos anos. O senhor de espadas iria dar abertura ao espetáculo da noite, então em um novo espetáculo inusitado e, por tal motivo fora chamado pelo mestre de cerimônias para um pequeno acerto, já que no Magnarcana tudo era improvisado, assim cada espetáculo era um único, sem qualquer outro igual.
O mistério do circo já se dava pelo fato de que não se podia comprar a entrada. Somente convidados podiam assistir, somente aqueles que recebiam dos artistas – Arlequim e Bobos da Corte – uma carta coringa. O coringa era símbolo do circo, e a carta era de um aspecto especial, e não havia outras iguais. Os convidados não podiam passar á carta para outro e nem mesmo vendê-la, caso o fizesse, estranhamente a carta se consumia em chamas e virava cinzas no mesmo momento. Muitas pessoas brigavam por esses convites, muitas pessoas desejavam está lá, a curiosidade para está na arquibancada era algo irracional. Nova Iorque, essa noite era sua, e seria a mais mágica e iluminada de todas as noites que já tivera em sua história, pois o maior espetáculo do mundo, o Magnarcana Circus, estava ali.